terça-feira, 24 de maio de 2011

Triste Reencontro



Antes de desencarnar, o senhor Gouveia redigiu em cartório um testamento legando todos os seus bens para sua esposa e, na falta desta, para os filhos, Palmira com dezoito anos e Bruno com vinte.

Viúva, a senhora Gouveia passou a administrar os bens da família o que sabia fazer muito bem, exceto quando se tratava de administrar os problemas que constantemente envolvia os filhos.

Bruno, desde criança demonstrou forte aversão pela irmã, as brigas eram constantes. com a morte do pai, o relacionamento entre os dois piorou.

Palmira sofria muito, o irmão facilmente manipulava os sentimentos da mãe contra ela, aliais, a senhora Gouveia sempre demonstrava um apego maior pelo filho.

Apesar dos problemas no lar, Palmira era muito jovem alegre e comunicativa. Certo dia, conheceu o jovem Marcos, por quem se apaixonou. Ao apresentá-lo à mãe e ao irmão, teve uma surpresa. Os dois se opuseram ao namoro alegando que o rapaz era um "João ninguém" e que, jamais consentiriam com o casamento. Ela sofreu muito, pois não esperava tal reação, mas apesar disso, manteve o namoro com Marcos. Esperava um dia conquistar pelo menos, a aprovação da mãe. Em pouco tempo descobriu que todo o esforço era inútil. Bruno de varias vezes ameaçá-lo com a violência.

Palmira, muitas vezes recorreu à senhora Gouveia:

- Mamãe! Bruno esta ameaçando o Marcos. A senhora não vai tomar providências?

- Bruno está certo. Você precisa romper esse namoro. Não vê que esse rapaz está interessado apenas no nosso dinheiro?

- Eu o amo! A senhora não entende?

- Não. Não entendo. Como você pode amar alguém que nada tem para lhe oferecer? Não vê que o Bruno tem razão, esse rapaz é um aventureiro.

Essas discussões repetiram-se até que um dia, Palmira, não aguentando as pressões sofridas no lar, fugiu com o rapaz, casando-se logo em seguida.

Com a ausência da irmã, Bruno desfrutava à vontade dos bens da família.Sua mãe satisfazia-lhe todos os desejos.

Um ano depois ... Palmira e o esposo atravessavam sérias dificuldades. Dona Ritinha, uma velha amiga da família, sabendo do caso procurou a senhora Gouveia e contou-lhe o que estava acontecendo. Tocada nos sentimentos de mãe, confiou à amiga uma razoável soma de dinheiro para que fosse entregue à filha.

Bruno acabou descobrindo e insurgiu-se conta ela:

- A senhora não devia ter feito isso, Palmira não tem mais nenhum direito nesta casa, eu vou até a casa dela dizer umas  verdades àquele vagabundo que vive com ela.

- Espere. Não vá meu filho.

Bruno não deu ouvidos à mãe e saiu nervoso ...

Logo depois veio a notícia. Seu carro desgovernara-se chocando-se conta um poste a poucas quadras dali. O acidente foi fatal.

A senhora Gouveia entrou em choque e teve que ser socorrida às pressas.

Passados os instantes traumáticos do acontecimento, deu-se o velório. Sob fortes sedativos recebeu os pêsames dos amigos, parente e vizinhos...

Tudo parecia estar sob controle, até que Palmira e Marcos entraram na sala. ao vê-los a senhora Gouveia começou a gritar:

- Vocês são culpados dessa tragédia! Saiam daqui. Não quero vê-los nunca mais. Dona Ritinha tentou acalmá-la mas não conseguiu. Palmira estava em prantos, tentou argumentar, mas foi em vão. Aconselhados pela Dona Ritinha retiraram-se.

O tempo passou ...

A senhora Gouveia não aceitava a morte do filho. Tentou encontrar respostas à sua dor na religião, passou por quase todas até chegar ao Espiritismo. Acompanhada de um amiga, peregrinava pelos Centros Espíritas em busca d uma mensagem de Bruno, até que um dia recebeu um bilhete dele através de um médium:

- Mamãe eu estou bem.

- Foi bom, mas é pouco. Preciso que escreva mais para que eu possa senti-lo ao meu lado.

Com esse propósito, passou a participar de vários Centros Espíritas que realizavam o trabalho de psicografia. Em pouco tempo, acumulava dezenas de mensagens e bilhetes do filho.

Quase dez anos se passaram da morte de Bruno. Palmira ficara grávida. Nas vésperas de dar à luz, procurou a mãe par pedir-lhe que a acompanhasse ao hospital, pois estava sentindo muito medo. A senhora Gouveia recebeu-a sem muito agrado, demonstrando a mágoa ainda contida no coração.

- Amanhã não posso. É dia de reunião no Centro e com certeza Bruno vai escrever-me. Peça a teu marido que te acompanhe.

Decepcionada e com lágrimas nos olhos, voltou para casa. No dia seguinte deu à luz a um lindo menino.

Em função do desgosto e do esforço do parto, adoeceu. O esposo sem ter a quem recorrer não hesitou, procurou a sogra acompanhado de Dona Ritinha ...

Depois de muito argumentarem conseguiram convencê-la a ajudar, aceitou que a filha o esposo e o neto viessem morar com ela.

assim foi feito.

Passaram-se algumas semanas, parecia ir tudo bem até que um dia ao retornar da reunião de psicografia, a senhora Gouveia começou a reclamar em voz alta:

- Eu sabia que isso ia acontecer. Só foi vocês mudarem para cá e o Bruno parou de escreve, eu tinha certeza que ele não iria gostar que vocês viessem morar aqui.
Palmira, ainda convalescendo da enfermidade, sentiu-se profundamente magoada. À noite conversando com o marido decidiu que não mudaria dali, afinal, tinha todo o direito àquela casa. Assim o fez.
Os anos foram passando ... A senhora Gouveia tornou-se uma mulher amarga e de pouca conversa, nem mesmo o netinho conseguia fazê-la sorrir. Vivia a maior parte do tempo trancada em seu quarto lendo as mensagens de Bruno. Certa feita, o menino surpreendeu-a soluçando sobre as mensagens;
- Vovó porque você está chorando? O que são esses papéis?
- Esses papéis são cartas do meu filho.
- Onde está o seu filho?
- Está no céu. Agora vai pra junto de sua mãe e deixa a vovó em paz.
Dizendo isto, pegou- o pelo braço e o colocou para fora do quarto.
Essa foi a convivência da senhora Gouveia com a filha, o neto e o genro, porém,  não foi longa. Pouco tempo depois, vítima de um enfarto agudo do miocárdio desencarnou.
Seu corpo foi sepultado, mas em espírito continuou na casa, mal se seu conta do acontecido, até que seu avô paterno veio ao seu encontro inteirando-a da situação. Mal podia crer no que seu avô lhe dizia,
Desesperou-se.
- Calma minha filha, o que voc6e deve fazer agora é vir comigo.
- Para onde? - perguntou:
- Vamos par um plano onde nossa família espiritual se abriga.
- Bruno está lá?
- Não. Não está.
- Então eu não vou. Só saio daqui para procurá-lo, é o que vou fazer agora mesmo.
Desesperada, saiu em direção a rua. Durante muito tempo caminhou a esmo chamando pelo filho. Visitou os Centros Espíritas que conhecera e se manifestando através de médiuns, pedia que ajudassem a encontrar seu filho.
Depois de muito perambular, voltou para casa. Novamente seu avô veio ao seu encontro. Ao vê-lo ajoelhou-se aos seus pés e implorou:
Por favor leve-me ao encontro do meu filho.
- Vem, eu vou levá-la até ele.
Passando o braço sobre seus ombros e segurando a sua mão, conduziu-a até o quarto ao lado daquele em que estavam e apontando para o netinho que dormia, afirmou:
- Eis o seu filho!
- Como é possível?
- Bruno desencarnou graças aos desígnios de Deus, pois no acidente resgatou o delito cometido no outra encarnação, quando tirou a vida de Palmira. Na vida presente, mesmo renascendo como irmãos, Bruno ainda mantinha o ódio no coração. Quem sabe agora como filho dela, conseguirá superar esse ódio e transformá-lo em amor.
- E as mensagens que eu recebi tantas vezes através dos médiuns?
- Algumas daquelas mensagens eu mesmo as escrevi tentando sensibilizá-la, mas você fez-se cega aos apelos que fiz para que abrandasse o seu coração. O Espiritismo que deveria renovar-lhe a alma, para você só existiu em função das mensagens de Bruno.
Naquele instante, a senhora Gouveia agarrou-e ao netinho e em prantos começou a gritar:
- Meu filho ... Perdoa-me, perdoa-me.
Extraído do livro - Pedaço de Estrela - Nelson Morais

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