sexta-feira, 20 de abril de 2012

Aprendendo a ser mãe






Vitória era uma menina boa, inteligente e criativa. Todavia era arteira e não aceitava quando a impediam de fazer alguma coisa.  

A mãe, preocupada com sua segurança e bem-estar, alertava: 
— Vitória, não mexa com fósforos. Você pode se queimar.  
E a garota, respondia: 
— Não vou me queimar, mamãe. Tenho seis anos e já sou grande! 

A mãe achava graça, abraçava a filha com amor, e guardava a caixa de fósforos no alto do armário, onde a pequena não poderia alcançar. 
E assim acontecia sempre. Quando Vitória brincava de casinha com as amigas, a mãe tinha que estar sempre atenta para que não se machucassem. Ora era uma faca, que a menina pegava para fazer comidinha, ora era o ferro elétrico que ela ligava para passar roupa; de outras vezes, subia numa grande mangueira que havia no quintal para apanhar mangas e assim por diante. A mãe não podia “descansar” um minuto.      
E Vitória reclamava, batendo o pé, indignada: 
— Mamãe! Sei o que estou fazendo. Já sou grande!  
A mãe a colocava no colo e explicava, com carinho: 
— Minha filha, você ainda tem muito que aprender. Quando você nasceu em nosso lar, Deus me fez responsável por sua vida. Minha tarefa é cuidar, educar e proteger você, de modo que nada de mal lhe aconteça. Como as mães de suas amiguinhas permitiram que elas viessem brincar aqui em casa, tenho que cuidar delas também. Entendeu?   
— Entendi, mamãe.  
— Ótimo. Mamãe não faz por mal e nem quer ser desmancha prazeres. Quando você crescer e tiver filhos vai entender melhor. Agora, vá brincar! 
No entanto, tudo continuava como antes.  

Certo dia, Vitória foi com sua mãe fazer compras. Na volta, um cãozinho de rua as seguiu. Tinha o pelo curto, branco com manchas marrons. Parecia abandonado.    
Vitória ficou encantada. Adorava cachorros. E aquele era tão pequeno e desprotegido!  
— Mamãe, podemos levá-lo para casa? 
— Não, Vitória. Ele tem dono.  
— Foi abandonado, mamãe. Tenho certeza. Vamos levá-lo.
   
A mãe recusava e a menina insistia. Conversavam paradas em frente a uma padaria. O dono, um simpático português, entrou no meio da conversa: 
— Queira desculpar-me, senhora, mas realmente esse cãozinho não tem dono. Vem sempre aqui porque costumo lhe dar um prato de leite.   
Vitória, com os olhos brilhando e um sorriso radiante, de mãos postas, suplicou: 
— Viu, mamãe, não lhe disse? Por favor! Vamos levá-lo para nossa casa. Ele terá um lar!  
Diante de tanta insistência, a mãe acabou concordando. 
— Está bem, Vitória. Com uma condição. Que você se responsabilize por cuidar dele: dar ração, água, banho e tudo o mais.  
A garota concordou, feliz. Pegando o filhote no colo, acariciou-o e disse: 
— Vamos, Bilu. Serei sua mãe e cuidarei de você. 
Desse dia em diante, Vitória só pensava no animalzinho. Cuidava dele com muito amor. Quando ela ia para a escola, ele queria acompanhá-la; quando ela voltava, ele a esperava no portão, e a primeira coisa que a menina fazia era abraçá-lo. Mas ela reconhecia que Bilu dava trabalho e estava sempre cuidando dele, vigiando:  
— Bilu, não suba no muro! Não coma porcaria do chão! Não vá para a rua, um carro pode pegar você! — E assim por diante.  
Quando acabava o dia, ela estava cansada, mas feliz, por tê-lo a seu lado. 
Na véspera do Dia das Mães, mãe e filha estavam sentadas no quintal observando Bilu que corria, latindo feliz, atrás de uma borboleta. Vitória olhou para a mãe e disse: 
— Mamãe! A senhora me disse que eu só entenderia o trabalho que dou quando crescesse e tivesse um filho. Não precisei crescer para isso. Bilu já me dá muito trabalho e preocupação. É como se ele fosse meu filho!  
A mãe sorriu achando graça do jeito sério da filha. Vitória sorriu também e trocaram um grande e carinhoso abraço, enquanto a menina exclamava: 
— FELIZ DIA DAS MÃES, mamãe! Ainda não comprei seu presente.  
A mãe suspirou, satisfeita, entendendo que Deus sabe o que faz e que dá a cada um, na vida, as experiências que precisa para aprender e amadurecer. Sua filhinha estava crescendo e tornando-se melhor. 
— Não precisa comprar nada, minha filha. Você já me deu o melhor presente que eu poderia desejar: Você!  



                                                       Tia Célia   


 Fonte: O Consolador

Allan Kardec, o Missionário de Jesus


 Há muito tempo, numa família de pessoas sérias e respeitáveis, nasceu um menino. A chegada de um bebê é um dia muito especial para a família, por isso esse 3 de outubro de 1804 ficaria gravado para sempre em suas vidas. Os pais ficaram muito felizes com a chegada do bebê, envolvendo ele em carinho e atenções. Deram-lhe o nome de Hippolyte Léon Denizard Rivail.

O papai, Jean-Baptiste, e a mamãe, Jeanne Louise, se debruçavam sobre o bercinho, pensando:
 Como será nosso bebê? O que será nosso filho quando crescer?

Tradicionalmente, vinham de uma família de pessoas inteligentes e cultas. O pai ocupava o cargo de juiz de direito. Era normal que se preocupasse com o futuro da criança.

Na França do século XIX a educação era difícil, e os professores tentavam instruir seus alunos através de castigos, de palmadas. Havia poucas escolas e, as existentes, normalmente eram para os mais privilegiados.

Por isso, o pai de Hippolyte Léon, desde que o filho era pequenino já procurava pensar para qual escola o mandaria quando chegasse à hora. Pesquisou bastante e decidiu-se pela Escola de Pestalozzi, na cidade de Yverdun, na Suíça.

Pestalozzi era um notável educador, famoso em todo o mundo. Assim, embora de família católica, o garoto foi mandado para um país protestante, aonde se tornou um dos mais conhecidos discípulos de Pestalozzi. Como professor, divulgou o sistema educacional do seu mestre, que veio a revolucionar o ensino na França e na Alemanha.

Hippolyte Léon tinha inteligência lúcida, notável raciocínio, sentimentos nobres, caráter reto e bons princípios. Com quatorze anos já dava aulas aos alunos menores, substituindo seu mestre quando ele precisava viajar.

Mesmo sendo um aluno brilhante, enfrentou discriminação por ser católico num país protestante. Os atos de intolerância que sofreu e que via outros sofrerem, o levaram a desejar uma reforma religiosa, na qual todas as pessoas fossem unidas e iguais entre si, não existindo diferença entre elas.

Mas ele não sabia como fazer isso!

Retornando à França, terminados os estudos, dedicou-se a dar aulas e fazer traduções de obras sobre educação e moral, para o idioma alemão, que conhecia profundamente. Escreveu diversos livros, fundou uma escola onde assumiu a tarefa de educar crianças e jovens para se tornarem homens dignos e respeitáveis como ele.

Por essa época, as manifestações dos Espíritos agitavam o mundo. O professor Rivail, como era chamado, começou a pesquisar o assunto e percebeu a importância desses fenômenos.

Mente lúcida, raciocínio claro e sempre disposto a aprender, aberto a novas idéias, logo se tornou um foco de luz, irradiando luminosidade para a sociedade em que vivia.

Pesquisou as manifestações dos Espíritos, comparou com as comunicações que lhe mandaram de diversos países, selecionou por assunto, formando um corpo de doutrina, a que deu o nome de Doutrina Espírita, ou Espiritismo.

Percebeu a relevância desses conhecimentos que vinham do Mundo Espiritual para esclarecer os homens na Terra. Assim, em 18 de abril de 1857 publicou a obra “O Livro dos Espíritos”, que contém toda a Doutrina Espírita, sob o pseudônimo de Allan Kardec. Como era um nome ilustre na França, tendo publicado vários livros, não queria influenciar as pessoas com seu nome.

Os fundamentos do Espiritismo são:
1) A existência de Deus.
2) A imortalidade da alma.
3) A comunicação entre os mundos material e espiritual.
4) A lei da reencarnação ou vidas sucessivas.
5) A pluralidade dos mundos habitados.

Assim, àquela criança nascida no início do século XIX, estava programada uma tarefa extraordinária: tornar-se o Codificador da Doutrina Espírita.    

Como Mensageiro de Jesus, viria para transformar o mundo, auxiliado pelos Espíritos, levando esclarecimento, consolação, fé e esperança a todas as criaturas.

Com os ensinamentos dos Espíritos Superiores encontrou finalmente aquilo que buscava. Entendeu que todos os homens são irmãos e iguais perante a lei, diferenciando-se entre si apenas pelo grau de evolução e pelas conquistas morais alcançadas.

Por isso, nesse dia 18 de abril, quando a Doutrina Espírita completa 150 anos, elevemos a Allan Kardec os nossos pensamentos cheios de gratidão pela notável missão que tão bem desempenhou.

Certamente aqueles que foram seus pais nesta última existência, que o receberam em seu lar, foram escolhidos para essa tarefa e preparados para dar a Allan Kardec a educação e o respaldo necessários para a execução da missão que iria realizar no futuro. Os Espíritos Jean Baptiste e Jeanne Louise devem se sentir felizes, realizados e gratos a Deus por lhes dar um filho que viria a tornar-se um dos grandes homens da Humanidade de todos os tempos.

Allan Kardec é uma luz que resplandece no infinito como uma estrela de brilho intenso que jamais se apagará.
Célia Xavier de Camargo

Fonte: O Consolador

quinta-feira, 19 de abril de 2012

O Que é Evangelização Espírita Infantojuvenil?


[...] educar uma criança e um jovem à luz do Espiritismo
é semear luz pelos caminhos do futuro…
Vianna de Carvalho1

Evangelização Espírita Infantojuvenil é toda a atividade voltada ao estudo da Doutrina Espírita e à vivência do Evangelho de Jesus junto à criança e ao jovem.

Sua ação visa:

- promover a integração do evangelizando consigo mesmo, com o próximo e com Deus;

- proporcionar o estudo da lei natural que rege o Universo e da “natureza, origem e destino dos Espíritos bem como de suas relações com o mundo corporal” (Allan Kardec, O que é o Espiritismo, Preâmbulo); e
   
- oferecer ao evangelizando a oportunidade de perceber-se como ser integral, crítico, consciente,  participativo, herdeiro de si mesmo, cidadão do Universo, agente de transformação de seu meio, rumo à toda perfeição de que é suscetível. (Cecília Rocha e equipe. Currículo para as Escolas de Evangelização Espírita Infantojuvenil. 4. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011.)

Na Instituição Espírita, a atividade de Evangelização abrange as aulas de evangelização espírita, momento especial de convivência, aprendizado, reflexão, compartilhamento de experiências e construção de vínculos de amizade e de fraternidade entre as crianças e os jovens frequentadores.

A ação evangelizadora envolve, ainda, pais e familiares, convidando-os a participarem de grupos ou reuniões voltados ao estudo de temas relacionados à vida em família, fundamentados à luz da Doutrina Espírita.

A relevância da tarefa é destacada por vários benfeitores espirituais, dentre eles, Guillon Ribeiro2, ao afirmar que “é imperioso se reconheça na evangelização das almas tarefa da mais alta expressão na atualidade da Doutrina Espírita”; e Vianna de Carvalho1, ao sintetizar que:

[...] à Evangelização Espírita Infantojuvenil cabe a indeclinável tarefa educacional de preparar os futuros cidadãos desde cedo, habilitando-os com as sublimes ferramentas do conhecimento e do amor para o desempenho dos compromissos que lhes cumprirá atender, edificando a nova sociedade do amanhã.


1Vianna de Carvalho (Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, no dia 26 de fevereiro de 2007, em Miami, Fla. USA. Fonte: Apostila Entrevista com o Espírito Vianna de Carvalho, FEB, 30 anos da Campanha de Evangelização Espírita Infantojuvenil)
2Guillon Ribeiro (Página recebida em 1963, durante o 1o Curso de Preparação de Evangelizadores — CIPE, realizado pela Federação Espírita do Estado do Espírito Santo, pelo médium Júlio Cezar Grandi Ribeiro. Fonte: Apostila Opinião dos Espíritos sobre a Evangelização Espírita Infantojuvenil, FEB)

quarta-feira, 11 de abril de 2012

O PRINCÍPIO VITAL


O princípio vital tão comentado em O Livro dos Espíritos nasce como ele mesmo afirma, do fluido universal,
(O fluido universal, também referido por fluido cósmico, é a matéria elementar primitiva. Na obra “Evolução em Dois Mundos” [1], André Luiz assim discorre a seu respeito:
“O fluido cósmico é o plasma divino, hausto do Criador ou força nervosa do Todo-Sábio. (...) na essência, toda a matéria é energia tornada visível e que toda a energia, originariamente, é força divina de que nos apropriamos para interpor os nossos propósitos aos propósitos da Criação, cujas leis nos conservam e prestigiam o bem praticado, constrangendo-nos a transformar o mal de nossa autoria no bem que devemos realizar, porque o Bem de Todos é o seu Eterno Princípio. Compete-nos, pois, anotar que o fluido cósmico ou plasma divino é a força em que todos vivemos, nos ângulos variados da Natureza, motivo pelo qual já se afirmou, e com toda a razão, que ‘em Deus nos movemos e existimos’” (Paulo de Tarso, em Atos 17:28)."
Leia mais no endereço: http://licoesdosespiritos.blogspot.com/2010/08/fluido-universal.html#ixzz1rwnZMJxE

que se transforma criando aspectos diferentes, de acordo com as mais variadas necessidades. Ele toma características múltiplas, de conformidade com o corpo onde passa a atuar. Já falamos alhures da sua relevância ao contato com a matéria, sensibilizando-a, desde quando esta se encontre amadurecida para tal empreendimento, o de demonstrar vida na feição da própria vida. Entretanto, ele não faz isso por si só, por faltar-lhe a inteligência capaz de programar os fatos nas linhas da harmonia. Espíritos de alta hierarquia espiritual dedicados à co-criação, almas altamente sábias, comandam toda essa explosão de vida, dentro dos preâmbulos traçados pela inteligência Divina e Soberana.
Nada se faz por acaso na construção universal. Tudo é planejado e seguido por inteligências superiores, que assistem e comandam os fenômenos da natureza, a que chamamos de evolução, e que o progresso nos faz crer como sendo despertamento espiritual das coisas e dos homens, senão dos Espíritos livres da matéria pesada. Ainda temos muito que aprender na escola da vida. Por enquanto estamos balbuciando as primeiras letras do alfabeto universal. Mesmo aquele que sabe mais, descobre logo que pouco sabe a respeito da vida, ou mesmo do próprio corpo que lhe serve de instrumento. Os maiores cientistas do mundo, que conhecem a biologia na Terra, professores de alta qualidade nas universidades, que ensinam aos seus alunos com a empáfia dos Doutores da Lei, sofrem todos os tipos de enfermidades orgânicas, por desrespeitarem as próprias leis biológicas da harmonia que sustentam e dão vida ao complexo humano.
Enquanto a humanidade confiar somente em pílulas, injeções e xaropes, ela continuará doente, porque todos os meios de equilíbrio orgânico e psíquico estão ao alcance das mãos, na natureza e dentro de cada um, no seu íntimo, esperando o despertamento da criatura, no que tange a sua própria felicidade. Esse princípio vital que se afiniza no mundo interatômico do organismo, emprestando-lhe movimentos ritmados, é o mesmo, como sendo força magnética em abundância, espraiada no universo, captada pela mente adestrada neste campo de saber, e que poderá ser usada para o equilíbrio e a paz de todas as criaturas, como também é sempre usada por mentes desequilibradas, para a desarmonia, na feitura de guerras permanentes. Contudo, cada um responde pelo que faz dessas bênçãos de Deus.
Mas, é bom que se saiba que esse agente vital sempre se modifica de acordo com o lugar, as intenções e o caráter do corpo que ocupa. Nunca é o mesmo frente a variadas circunstâncias. A transformação é lei universal em todos os mundos e em todos os reinos.
No corpo humano essa força vital, tornamos a dizer, é a intermediária entre a matéria e o espírito imortal: ela sensibiliza e o espírito comanda; ela movimenta e o espírito dá expressão; ela prepara todos os canais do corpo, e o Espírito fala demonstrando a razão, o saber e o amor. O princípio vital igualmente cresce, acompanha a evolução do corpo e da alma, e serve nos dois planos da vida, para que os homens que moram na Terra reconheçam a verdade dos Céus, e se preparem para o inevitável, que é o renascimento e a volta para o lugar de onde vieram.

Fonte: Filosofia Espírita João N, Maia – pelo espírito de Miramez.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Crianças


“Vede, não desprezeis alguns destes pequeninos;” – Jesus. (Mateus, 18:10.) 
Quando Jesus nos recomendou não desprezar os pequeninos, esperava de nós não somente medidas providenciais alusivas ao pão e à vestimenta.
Não basta alimentar minúsculas bocas famintas ou agasalhar corpinhos enregelados. É imprescindível o abrigo moral que assegure ao espírito renascente o clima de trabalho necessário à sua sublimação.
Muitos pais garantem o conforto material dos filhinhos, mas lhes relegam a alma a lamentável abandono.
A vadiagem na rua fabrica delinqüentes que acabam situados no cárcere ou no hospício, mas o relaxamento espiritual no reduto doméstico gera demônios sociais de perversidade e loucura que em muitas ocasiões, amparados pelo dinheiro  ou pelos postos de evidência, atravessam largas faixas do século, espalhando miséria e sofrimento, sombra e ruína, com deplorável impunidade à frente da justiça terrestre.
Não desprezes, pois, a criança, entregando-a aos impulsos da natureza animalizada.
Recorda que todos nos achamos em processo de educação e reeducação, diante do Divino Mestre.
O prato de refeição é importante no desenvolvimento da criatura, todavia, não podemos esquecer que “nem só de pão vive o homem”.
Lembremo-nos da nutrição espiritual dos meninos, através de nossas atitudes e exemplos, avisos e correções, em tempo oportuno, de vez que desamparar moralmente a criança, nas tarefas de hoje, será condená-la ao menosprezo de si mesma, nos serviços de que se responsabilizará amanhã.
Emmanuel
Fonte Viva - Emmanuel - F.C.X.

domingo, 1 de abril de 2012

Visão Espírita da Páscoa


Eis-nos, uma vez mais, às vésperas de mais uma Páscoa. Nosso pensamento e nossa emoção, ambos cristãos, manifestam nossa sensibilidade psíquica. 
Deixando de lado o apelo comercial da data, e o caráter de festividade familiar, a exemplo do Natal, nossa atenção e consciência espíritas requerem 
uma explicação plausível do significado da data e de sua representação perante o contexto filosófico-científico-moral da Doutrina Espírita.


Deve-se comemorar a Páscoa? Que tipo de celebração, evento ou homenagem é permitida nas instituições espíritas? Como o Espiritismo visualiza o acontecimento da paixão, crucificação, morte e ressurreição de Jesus?


Em linhas gerais, as instituições espíritas não celebram a Páscoa, nem programam situações específicas para “marcar” a data. Todavia, o sentimento de religiosidade 
que é particular de cada ser-Espírito, é, pela Doutrina Espírita, respeitado, de modo que qualquer manifestação pessoal ou, mesmo, coletiva, acerca da Páscoa não é proibida, nem desaconselhada.


O certo é que a figura de Jesus assume posição privilegiada no contexto espírita, dizendo-se, inclusive, que a moral de Jesus serve de base para a moral do Espiritismo. Assim, como as pessoas, via de regra, são lembradas, em nossa cultura, pelo que fizeram e reverenciadas nas datas principais de sua existência corpórea (nascimento e morte), é absolutamente comum e verdadeiro lembrarmo-nos das pessoas que nos são caras ou importantes nestas datas. Não há, francamente, nenhum mal nisso.Mas, como o Espiritismo não tem dogmas, sacramentos, rituais ou liturgias, a forma de encarar a Páscoa (ou a Natividade) de Jesus, assume uma conotação 
bastante peculiar. Antes de mencionarmos a significação espírita da Páscoa, faz-se necessário buscar, no tempo, na História da Humanidade, as referências ao acontecimento.


A Páscoa, primeiramente, não é, de maneira inicial, relacionada ao martírio e sacrifício de Jesus. Veja-se, por exemplo, no Evangelho de Lucas (cap. 22, versículos 15 e 16), a menção, do próprio Cristo, ao evento: “Tenho desejado ansiosamente comer convosco esta Páscoa, antes da minha paixão. Porque vos declaro que não tornarei a comer, até que ela se cumpra no Reino de Deus.” 
Evidente, aí, a referência de que a Páscoa já era uma “comemoração”, na época de Jesus, uma festa cultural e, portanto, o que fez a Igreja foi “aproveitar-se” do sentido da festa, para adaptá-la, dando-lhe um novo significado, associando-o à “imolação” de Jesus, no pós-julgamento, na execução da sentença de Pilatos.


Historicamente, a Páscoa é a junção de duas festividades muito antigas, comuns entre os povos primitivos, e alimentada pelos judeus, à época de Jesus. Fala-se do “pesah”, uma dança cultural, representando a vida dos povos nômades, numa fase em que a vinculação à terra (com a noção de propriedade) ainda não era flagrante. Também estava associada à “festa dos ázimos”, uma homenagem que os agricultores sedentários faziam às divindades, em razão do início da época da colheita do trigo,agradecendo aos Céus, pela fartura da produção agrícola, da qual saciavam a fome de suas famílias, e propiciavam as trocas nos mercados da época. Ambas eram comemoradas no mês de abril (nisan) e, a partir do evento bíblico denominado “êxodo” (fuga do povo hebreu do Egito), em torno de 1441 a.C., passaram a ser reverenciadas juntas. É esta a Páscoa que o Cristo desejou comemorar junto dos seus mais caros, por ocasião da última ceia.


Logo após a celebração, foram todos para o Getsêmani, onde os discípulos invigilantes adormeceram, tendo sido o palco do beijo da traição e da prisão do Nazareno.


Mas há outros elementos “evangélicos” que marcam a Páscoa. Isto porque as vinculações religiosas apontam para a quinta e a sexta-feira santas, o sábado de aleluia e o domingo de páscoa. Os primeiros relacionam-se ao “martírio”, ao sofrimento de Jesus – tão bem retratado neste último filme hollyodiano (A Paixão de Cristo, segundo Mel Gibson) –, e os últimos, à ressurreição e a ascensão de Jesus.


No que concerne à ressurreição, podemos dizer que a interpretação tradicional aponta para a possibilidade da mantença da estrutura corporal do Cristo, no post-mortem, situação totalmente rechaçada pela ciência, em virtude do apodrecimento e deterioração do envoltório físico. As Igrejas cristãs insistem na hipótese do Cristo ter “subido aos Céus” em corpo e alma, e fará o mesmo em relação a todos os “eleitos” no chamado “juízo final”. Isto é, pessoas que morreram, pelos séculos afora, cujos corpos já foram decompostos e reaproveitados pela terra, ressurgirão, perfeitos, reconstituindo as estruturas orgânicas, do dia do julgamento, onde o Cristo, separá justos e ímpios.


A lógica e o bom-senso espíritas abominam tal teoria, pela impossibilidade física e pela injustiça moral. Afinal, com a lei dos renascimentos, estabelece-se um critério mais justo para aferir a “competência” ou a “qualificação” de todos os Espíritos. Com “tantas oportunidades quanto sejam necessárias”, no “nascer de novo”, é possível a todos progredirem.


Mas, como explicar, então as “aparições” de Jesus, nos quarenta dias póstumos, mencionadas pelos religiosos na alusão à Páscoa?


A fenomenologia espírita (mediúnica) aponta para as manifestações psíquicas descritas como mediunidades. Em algumas ocasiões, como a conversa com Maria 
de Magdala, que havia ido até o sepulcro para depositar algumas flores e orar, perguntando a Jesus – como se fosse o jardineiro – após ver a lápide removida, “para onde levaram o corpo do Raboni”, podemos estar diante da “materialização”, isto é, a utilização de fluido ectoplásmico – de seres encarnados – para possibilitar que o Espírito seja visto (por todos). Igual circunstância se dá, também, no colóquio de Tomé com os demais discípulos, que já haviam “visto” Jesus, de que ele só acreditaria, se “colocasse as mãos nas chagas do Cristo”. E isto, em verdade, pelos relatos bíblicos, acontece. Noutras situações, estamos diante de uma outra manifestação psíquica conhecida, a mediunidade de vidência, quando, pelo uso de faculdades mediúnicas, alguém pode ver os Espíritos.


A Páscoa, em verdade, pela interpretação das religiões e seitas tradicionais, acha-se envolta num preocupante e negativo contexto de culpa. Afinal, acredita-se que Jesus teria padecido em razão dos “nossos” pecados, numa alusão descabida de que todo o sofrimento de Jesus teria sido realizado para “nos salvar”, dos nossos próprios erros, ou dos erros cometidos por nossos ancestrais, em especial, os “bíblicos” Adão e Eva, no Paraíso. A presença do “cordeiro imolado”, que cumpre as profecias do Antigo Testamento, quanto à perseguição e violência contra o “filho de Deus”, está flagrantemente aposta em todas as igrejas, nos crucifixos e nos quadros que relatam – em cores vivas – as fases da via sacra.


Esta tradição judaico-cristã da “culpa” é a grande diferença entre a Páscoa tradicional e a Páscoa espírita, se é que esta última existe. Em verdade, nós espíritas devemos reconhecer a data da Páscoa como a grande – e última lição – de Jesus, que vence as iniqüidades, que retorna triunfante, que prossegue sua cátedra pedagógica, para asseverar que “permaneceria eternamente conosco”, na direção bussolar de nossos passos, doravante.


Nestes dias de festas materiais e/ou lembranças do sofrimento do Rabi, possamos nós encarar a Páscoa como o momento de transformação, a vera evocação de liberdade, pois, uma vez despojado do envoltório corporal, pôde Jesus retornar ao Plano Espiritual para, de lá, continuar “coordenando” o processo depurativo de nosso orbe. Longe da remissão da celebração de uma festa pastoral ou agrícola, ou da libertação de um povo oprimido, ou da ressurreição de Jesus, possa ela ser encarada por nós, espíritas, como a vitória real da vida sobre a morte, pela certeza da imortalidade e da reencarnação, porque a vida, em essência, só pode ser conceituada como o 
amor, calcado nos grandes exemplos da própria existência de Jesus, de amor ao próximo e de valorização da própria vida.


Nesta Páscoa, assim, quando estiveres junto aos teus mais caros, lembra-te de reverenciar os belos exemplos de Jesus, que o imortalizam e que nos guiam para, um dia, também estarmos na condição experimentada por ele, qual seja a de “sermos deuses”, “fazendo brilhar a nossa luz”.


Comemore, então, meu amigo, uma “outra” Páscoa. A sua Páscoa, a da sua transformação, rumo a uma vida plena.


(*) Marcelo Henrique Pereira, Mestre em Ciência Jurídica, Presidente da 
Associação de Divulgadores do Espiritismo de Santa Catarina e Delegado da 
Confederação Espírita Pan-Americana para a Grande Florianópolis (SC)
http://www.abrade.com.br/pascoa.html
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