segunda-feira, 6 de março de 2017

O menino de rua


 

Cansado de ficar dentro de casa, Celso saiu para o jardim. Gostava de ficar no portão vendo a rua, o movimento dos carros e as pessoas que passavam.
Nisso, Celso viu, do outro lado da rua, um garoto de expressão tristonha, sentado no meio-fio. Ele estava sujo, malvestido e descalço. Celso sentiu pena do menino, que teria mais ou menos a sua idade: oito anos.
Abriu o portão, atravessou a rua e foi até onde ele estava. Aproximando-se, perguntou:
— Olá! Posso sentar-me aqui com você?
O garoto levantou a cabeça para ver quem estava falando e estranhou ver um menino do seu tamanho. Ergueu os ombros, como se dissesse: Sente-se. A rua é pública!
Celso sentou-se e começou a conversar:
 
— Por que está tão triste?  
— Por que quer saber? — respondeu o desconhecido com outra pergunta.
E Celso estendeu o braço e apontou com o dedo:
— Está vendo aquela casa ali? É onde moro. Estava olhando a rua e vi você tão triste que não pude deixar de vir aqui. O que aconteceu?
O garoto respirou fundo e contou:
— É uma longa história. Minha mãe morreu e meu pai me abandonou. Desesperado, ele saiu pelo mundo e não sei onde está. Fui mandado para a casa de uma tia, mas passei tanta fome, sofri tantos maus-tratos, que não aguentei mais e fugi. Agora, não tenho para onde ir e fico na rua. Quando tenho fome, peço em alguma casa. Para dormir, escondo-me em algum canto, embaixo de alguma ponte ou alguma casa abandonada.
Celso estava penalizado. Nunca pensou que existissem crianças como ele sofrendo tanto!
— Não saia daí. Vou até minha casa e volto já! — disse ao garoto.
Ele fez um sanduíche, pegou um copo de leite com café e retornou para junto do menino, entregando-lhe.
Os olhos do garoto brilharam ao ver o lanche. Devorou tudo e depois agradeceu:
— Obrigado. Estava mesmo com fome! Mas, nem sei como se chama!
— Celso. E você? — e estendeu a mão ao outro, que a apertou.
— Meu nome é Luisinho! Você é legal, Celso!
Os dois puseram-se a conversar. Após algum tempo, estavam tão amigos que Celso desejava poder ajudar Luisinho. Então, pediu que ele esperasse e retornou para sua casa.
Celso tinha visto seu pai entrar em casa, após o trabalho. Então, chegando-se a ele, pediu:
— Papai, gostaria que conhecesse um amigo meu. Venha comigo!
O pai, mesmo cansado, concordou e acompanhou o filho. Então, Celso mostrou-lhe:
— Veja, papai! Aquele garoto ali, do outro lado da rua, precisa de ajuda!
O pai olhou o garoto sentado no meio-fio e reagiu, surpreendido:
— Mas, meu filho! Ele é um menino de rua!...
Celso, com os olhos úmidos, virou-se para o pai, considerando:
— Papai, outro dia mesmo o senhor falava de Jesus, e disse que devemos amar a todas as pessoas, porque são nossas irmãs, lembra-se?
— Você tem razão, filho. Porém, não sabemos quem é esse menino! Ele pode ter maus hábitos, pode até estar acostumado a roubar!... Como confiar em alguém que não se conhece? — respondeu o pai, abalado pelo argumento do filho.
O garoto pensou um pouco, depois voltou a ponderar:
— Papai, mas se os bons não amparam os maus, como podemos exercitar a fraternidade?
O pai, vencido pelo novo argumento do filho, emocionado pela sua grandeza de alma, abraçou-o e concordou:
— Tem razão, meu filho. Se nos consideramos cristãos, temos que agir como Jesus nos ensinou.
Atravessaram a rua e o pai de Celso conversou um pouco com Luisinho, depois o convidou:
— Luís, queremos que venha para nossa casa.
— Senhor, eu agradeço sua bondade. Mas não me conhece, nem sabe quem eu sou! — respondeu o menino, sem poder acreditar no que estava ouvindo.
Diante daquelas palavras, o pai de Celso respondeu comovido:
— Não preciso conhecê-lo para saber que é um bom menino. Ficará conosco pelo tempo que quiser. Irá à escola com Celso e terá a vida de todo garoto da sua idade. Se algum dia, você tiver notícias de seu pai e quiser ficar com ele, terá toda liberdade. Farei o que puder para ajudá-los. 
Atravessaram a rua e, antes de entrar pelo portão, feliz, mas ainda indeciso, Luisinho quis saber:
— Senhor, e a mãe de Celso? Ela vai concordar?
— Tenho certeza que sim. Não se preocupe.
Entraram em casa e o pai explicou a situação à sua esposa. Ao ver o novo hóspede, ela sorriu, abraçando-o. Depois, pediu que Celso pegasse algumas roupas para Luís poder tomar banho, enquanto ela terminava de preparar o jantar.
Limpo, bem vestido e calçando tênis novos, meia-hora depois Luisinho apareceu com Celso na sala, onde a refeição seria servida. Todos estavam contentes. O pai disse ao novo morador:
— Em nome de Jesus, seja bem-vindo à nossa casa!
MEIMEI
(Recebida por Célia Xavier de Camargo, Rolândia-PR, em 19/03/2012.)
 

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