segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Filhos que aprontam e pais que se desculpam




Artigo da Revista O Consolador
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Para ser mais preciso, algo muito estranho, para dizer o mínimo, está em curso na relação entre pais e filhos na atualidade. Ou seja, os pais estão agora se desculpando por exercer o seu papel na educação da sua prole. Explico melhor: há fortes indícios de que muitos pais se sentem desconfortáveis em chamar a atenção dos seus filhos quando estes se excedem ou cometem uma falta grave. Em situações mais extremas, há pais que se desculpam por não poder acompanhar os seus filhos em certos eventos ou lhes atender certos desejos e caprichos.
É evitado a todo o custo – como já presenciei inúmeras vezes - o uso da palavra “não” na interação diária entre eles, até mesmo em situações que concretamente a exigem. É notório que os padrões educacionais – refiro-me essencialmente aqui à orientação que parte do lar – sofreram acentuadas mudanças nas últimas décadas. Por conseguinte, o modelo austero do passado cedeu a um enfoque e/ou tratamento contemporizador e, às vezes, até mesmo excessivo. Por isso, é pertinente recuperar as elucidações exaradas pela doutrina espírita, considerando a delicadeza do assunto. 
Desse modo, será que estabelecer certos limites e/ou pronunciar a palavra não, quando esta for necessária, podem ser iniciativas indesejadas nas relações entre pais e filhos? A lógica nos sugere o contrário. Afinal de contas, a educação do lar tende a moldar importantes traços comportamentais e de personalidade dos filhos. É nessa fonte sagrada que normalmente bebemos durante uma parte relevante da nossa formação, e que provavelmente determinará muito do que haveremos de ser no futuro. Se bem aproveitada, certamente nos lembraremos por toda a vida de certas lições recebidas, conselhos formulados, explicações fornecidas e exemplos dados pelos nossos pais.
Corroborando essa percepção, O Espírito Emmanuel, na obra Pensamento e Vida (psicografia de Francisco Cândido Xavier), recorda que “Nasce a criança, trazendo consigo o patrimônio moral que lhe marca a individualidade antes do renascimento no plano físico; no entanto, receberá os reflexos dos pais e dos mestres que lhe imprimirão à nova chapa cerebral as imagens que, em muitas ocasiões, lhe influenciarão a existência inteira”.  
Emmanuel pondera igualmente que:
“Tratá-los à conta de enfeites do coração será induzi-los a funestos enganos, porquanto, em se tornando ineficientes para a luta redentora, quando se lhes desenvolve o veículo orgânico facilmente se ajustam ao reflexo dominante das inteligências aclimatadas na sombra ou na rebeldia, gravitando para a influência do pretérito que mais deveríamos evitar e temer.
É assim que toda criança, entregue à nossa guarda, é um vaso vivo a arrecadar-nos as imagens da experiência diária, competindo-nos, pois, o dever de traçar-lhe noções de justiça e trabalho, fraternidade e ordem, habituando-a, desde cedo, à disciplina e ao exercício do bem, com a força de nossas demonstrações, sem, contudo, furtar-lhe o clima de otimismo e esperança. Acolhendo-a, com amor, cabe-nos recordar que o coração da infância é urna preciosa a incorporar-nos os reflexos, troféu que nos retratará no grande futuro, no qual passaremos todos igualmente a viver, na função de herdeiros das nossas próprias obras”.
Por sua vez, Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos (questão 208), sintetiza: “... os Espíritos dos pais têm por missão desenvolver os de seus filhos pela educação. Constitui-lhes isso uma tarefa. Tornar-se-ão culpados, se vierem a falir no seu desempenho” (ênfase minha). Dedicar-se a essa tarefa com denodo, portanto, constitui uma obrigação inalienável quando se assume a paternidade.
Desculpar-se por querer lhes fornecer as lições mais valiosas ou por negar-lhes certos caprichos perigosos não condiz com tal missão. Querer compensar a ausência física – muito comum nos dias presentes por várias razões que não cabem discorrer aqui - por meio da complacência descabida com os defeitos, manias e comportamentos inapropriados dos filhos não ajuda os que abraçam a paternidade, assim como os seus filhos, além de criar situações penosas e perfeitamente dispensáveis para todos os envolvidos.
 por Anselmo Ferreira Vasconcelos
http://www.oconsolador.com.br/ano11/530/ca1.html

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